A “piada do consultor” pode custar muito caro para as empresas
Postado em 12/07/2010 - Atualizado em: 12/07/2010

Marcos Cirne

Existe uma piada antiga que fala das profissões. E determinada versão pergunta: "Quantos consultores são necessários pra trocar uma lâmpada?" Ela me ocorre quando começo a refletir sobre a responsabilidade do gestor no momento da contratação de profissionais habilitados nas áreas de qualidade e produtividade, incluindo a implantação de 5S, Kaizen, sistemas de gestão da qualidade ISO 9001/TS 16949, auditoria interna, etc.

Tenho reparado em algumas premissas que devem ser seguidas para que o sonho de uma empresa de “alavancar” resultados não se transforme em dinheiro a escorrer pelo ralo. Recentemente, atendi uma empresa possuidora de certificação ISO 9001. O fundador me confessou que, lamentavelmente, não sabia qual era a finalidade dessa certificação. Perto de uma auditoria do órgão certificador, fui chamado às pressas. Dialogando com as equipes, descobri que o profissional responsável pela consultoria de  certificação nunca havia trabalhado em uma empresa de grande porte, tendo sido habilitado em programas e treinamentos rápidos, desenvolvidos por cursos e outras organizações.

Experiência diversificada. Arrisco a afirmar que esta é uma das maiores habilitações exigidas de um consultor capacitado; é a experiência em situações e processos. Em três décadas trabalhando na área, em diversas empresas, nunca vi um problema ou uma não conformidade serem resolvidos por alguém que não tivesse vivido uma experiência anterior no mesmo assunto ou em correlatos. Vivência nesses casos é dinheiro em caixa. Falar em qualidade ou em outras ferramentas de gestão é falar sobre resultados. Todos reais, aferidos no balanço da empresa. Qualquer coisa longe disso é balela de consultores sem experiência.

Nenhuma empresa deve implantar ferramentas de gestão porque é moda; ou porque é bonito. E devem estar de olhos atentos, porque alguns "consultores", aqui com aspas, não conseguem ao menos explicar para que servem as certificações da qualidade ou as ferramentas de gestão. Vendem gato por lebre, e a conta fica para a empresa pagar.

Aliás, encarar um investimento em consultoria como custos pode se transformar em uma grande armadilha. Ao considerar como mais um gasto da corporação, de antemão ela já está flertando com o fracasso. Ora, gastos não trazem lucros. Investimentos trazem lucros. E se a empresa está investindo, ela tem que estar comprando o melhor conhecimento, o que já foi provado, comprovado, testado. É a máxima do empreendedor. Não interessa a quantidade de recursos investidos, mas quanto e quando ele vai retornar multiplicado para a empresa.

São reflexões que faço ao deparar com consultores que inserem o preço do seu trabalho em um autêntico leilão, diminuindo o valor somente para assinar o contrato. Depois colocam a empresa na "bacia das almas" e não têm compromisso com resultados. Consultoria não é commodity; é saber, colocado à disposição de gestores que queiram aumentar sua produtividade. Em outras palavras, consultor da qualidade existe para aumentar o lucro das empresas.

Portanto, a empresa deve fugir da piada pronta, que diz que são necessários dois consultores para trocar uma lâmpada, porque um deles sempre deixa o serviço pela metade, ou abandona o cliente quando ele mais precisa.

Marcos Cirne é diretor da Qualytrail.